A Maçonaria: formadora de líderes de opinião (Carta de Santiago- 2014)

A Conferência Maçônica Americana – COMAM, formada por diversas potências maçônicas, soberanas e independentes que invocando os princípios da igualdade, liberdade e da fraternidade das Grandes Lojas e Grandes Orientes da América, unidas pelos laços culturais, se reúne com o objetivo de fortalecer a cadeia universal, criar um espaço de reflexão, análise e debates de problemas americanos, sem pretensões de converter-se em um organismo supraobdencial, nem tampouco se intrometer nos assuntos internos de cada potência. Seu nascimento ocorreu em 2004, no Chile, com a presença de oito potências.

Destacamos alguns de seus objetivos: fortalecer a cadeia de união entre suas Obediências; desempenhar as funções de informar, comunicar e refletir dando sua contribuição às universidades e também aos governos e à sociedade em geral para que reflitam sobre temas diversos como: direitos humanos, meio ambiente, temas filosóficos e humanistas; propor colóquios através de mecanismos que considerem permanentes.

 

Diversos temas até hoje foram abordados:

2005 – Vigência da Maçonaria para os jovens;

2006 – Laicidade, Educação e Diversidade Cultural;

2008 – Maçonaria frente à Globalização;

2010 – Educação em nossas Lojas e na Sociedade;

2011 – A contribuição atual da Maçonaria Americana para a Cadeia Universal;

2012 – Compromisso da Maçonaria com os povos originários das Américas;

2013 – Como reformular o significado dos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade em nossa realidade atual.

2014 – A Maçonaria e a formação de líderes de opinião.

 

Para refletirmos sobre o tema proposto para este ano de 2014: “A Maçonaria e a Formação de Líderes de Opinião”, torna-se necessário pensar sobre o que entendemos por liderança. O que é ser um líder. Quais as suas características. Qual o papel de um líder neste novo milênio.

O termo líder tem origem no inglês leader definindo alguém que guia, que conduz. No dicionário Houaiss líder é o “indivíduo que tem autoridade para comandar ou coordenar os outros”, ou ainda é “a pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e comportamento de outras”. “O dicionário Caldas Aulete, por sua vez, define o líder como “pessoa com autoridade e carisma para comandar outras” e ainda, alguém que, ““ por seu prestígio e influência, comanda, orienta, incentiva outras em suas atividades”.

Se levarmos em consideração a diversidade do mundo moderno, facilmente poderemos compreender a importância da atuação de um líder. Citando Reinaldo Passarinho “liderança não é algo que você faz às pessoas, mas algo que faz com elas”.[1]

A sociedade do século XXI é uma sociedade que cobra, que deseja saber, que exige transparência e ação das organizações e instituições. O mundo de hoje é mutante, multicultural e complexo, por isso mesmo necessita de pessoas que sejam referências, que deem exemplos de boa conduta, que vislumbrem um futuro nobre e edificante para todos os povos.

O conceito de líder é aquele que faz escolhas baseadas em princípios, é justo, confiável, honesto e responsável. O líder lidera pelo exemplo, que é a ferramenta de ensino mais poderosa. A base da liderança é a credibilidade conquistada minuto a minuto, hora a hora, dia a dia. Podemos aqui relevar que os melhores líderes são também os melhores aprendizes.

E aí entra a doutrina maçônica da liderança: ética, com características de humanitarismo, moral, busca da verdade, incentivo à reflexão, defesa da liberdade e da dignidade do homem, modéstia e estímulo à livre expressão de opinião.

Uma respeitada enciclopédia maçônica, Coil’s Masonic Encyclopedia (1961) que tem a Maçonaria como campo, apresenta a seguinte definição que explora os princípios e valores maçônicos e apresenta uma visão mais filosófica da instituição:

“Maçonaria, em seu sentido mais amplo e abrangente, é um sistema de moralidade e ética social, é uma filosofia de vida, de caráter simples e fundamental incorporando um humanitarismo amplo e, embora tratando a vida como uma experiência prática, subordina o material ao espiritual; é moral, mas não farisaica; exige sanidade em vez de santidade; é tolerante, mas não indiferente; busca a verdade, mas não define a verdade; incentiva seus adeptos a pensar, mas não diz a eles o que pensar; que despreza a ignorância, mas não reprova o ignorante; que promove a educação, mas não propõe nenhum currículo; ela abraça a liberdade política e de dignidade do homem, mas não tem plataforma ou propaganda; acredita na nobreza e utilidade da vida; é modesta e não militante; que é moderada, universal, e liberal quanto a permitir que cada indivíduo forme e expresse sua própria opinião, mesmo sobre o que a Maçonaria é, ou deveria ser, e convida-o a melhorá-la, se puder”.[2]

Sendo a Maçonaria um sistema de moralidade e ética social espera-se que seus membros atuem como líderes internos ou externos dentro dos princípios e valores maçônicos. Os indivíduos aprendem prestando atenção e imitando as atitudes, valores e comportamentos de modelos atraentes. Esse é o modelo maçônico de aprendizagem que através dos seus rituais que tratam do combate à ignorância, à tirania, aos preconceitos e à intolerância estabelece padrões elevados de conduta moral e ética e exerce influência sobre seus seguidores estimulando-os a serem construtores sociais, a assumirem maiores responsabilidades no estabelecimento efetivo dos ideais de uma sociedade justa e fraterna

A sociedade americana, construída pela miscigenação de povos de origens diversas deu ao mundo vários líderes maçônicos, espíritos brilhantes como George Washington, Benjamin Franklin no Norte. José Julian Marti Pérez na América Central. Ao Sul, Símon Bolívar, Bernardo O’Higgins, José de San Martin, Pedro I, Rui Barbosa, José Bonifácio.

Neste século XXI onde multiplicamos os nossos bens mas reduzimos os nossos valores, em que fazemos tantas coisas e nem todas bem feitas, vemos um vácuo de líderes éticos e humanitaristas que conduzam a natural pluralidade de ideias para uma evolução coletiva de respeito, estabilidade e paz que restaure o sentido fraterno da humanidade. Não podemos mais assistir e permanecer calados diante da ausência de ações que promovam a todos a oportunidade de crescimento por seu esforço, de viver com dignidade, de ampliar seu conhecimento e transmitir às novas gerações princípios que os ajudem a galgar cada um dos degraus da escada de Jacó, com fé, esperança e caridade.

Filipe João Bera de Azevedo Sobrale Rogério de Freitas Gimba citam em seu estudo“As prioridades axiológicas do líder autêntico: um estudo sobre valores e liderança”:

“De acordo com Luthans e Avolio (2003), os líderes autênticos são guiados por valores explícitos e conscientes que lhes permitem operar com elevados padrões de integridade moral demonstrada por comportamentos que colocam ideais à frente dos resultados (PETERSON; SELIGMAN, 2004). Os líderes autênticos têm profunda consciência do seu modo de pensar e agir, bem como do contexto no qual atuam, e são percebidos como conscientes das perspectivas morais, do conhecimento e das forças próprias e dos outros, além de serem confiantes, esperançosos, otimistas e resilientes, e possuírem um elevado caráter moral (AVOLIO; LUTHANS; WALUMBWA, 2004). Além disso, esses líderes apresentam um acentuado grau de transparência e consistência entre seus valores e comportamentos, o que gera o respeito e a confiança dos seguidores (WALUMBWA et al., 2008)”.[3]

Sobre o papel da Maçonaria na transformação do homem expressa Jay Kinney em seu livro O Mito Maçônico o seguinte trecho:

“Os ideais de fraternidade humana e de lidar com todos “no esquadro” e “no nível” podem parecer estranhos numa era em que jogo duro, competição cruel e ganância irrestrita foram entronizados como norma. Mas até que a última porta tenha sido batida no último templo maçônico remanescente, nós podemos extrair alguma satisfação de saber que uns poucos homens decentes ainda estão tentando nadar contra a corrente” [4]

Diante do aqui exposto, considerando os princípios e a doutrina ética da Maçonaria e para que se possam consolidar no mundo profano, de modo universal, os direitos fundamentais do homem, para que prevaleçam os valores de justiça social, fraternidade e liberdade, para que se cumpra o ideal maçônico de aperfeiçoamento humano, pensamos que a Maçonaria deve dedicar especial atenção na capacitação dos seus membros com vistas a que exerçam uma autêntica liderança nas suas áreas de atuação e assim cumpram as funções citadas no segundo parágrafo de informar, comunicar, dar sua contribuição às universidades, governos e à sociedade em geral para que reflitam sobre os diversos temas atuais vinculados aos direitos humanos; ao meio ambiente; os filosóficos e humanistas com o propósito de aplicá-los nos diferentes âmbitos da vida social promovendo o progresso e o desenvolvimento sócio-econômico fundamentados nos altos princípios éticos e morais que são o alicerce da verdadeira Maçonaria. Líderes que atuem no sentido da manutenção das grandes conquistas da Humanidade, de intervenção ativa na mediação dos conflitos de idéias e na solução dos problemas que afligem a sociedade atual. Líderes comprometidos nos esforços para assegurar a paz, a justiça e a fraternidade entre homens e povos, sem distinção de raças, cores, religiões, origens e nacionalidades. Nosso amanhã será aquele que soubermos preparar.

 

Bibliografia:

Ismail,Kennyo Mahmud Soares Oliveira – Liderança Maçônica:  A Influência da Liderança na Identidade e Comportamento Maçônico  Rio de Janeiro – RJ Setembro de 2013, disponível em bibliotecadigitalfgv.com.br da Fundação Getúlio Vargas/Escola Brasileira de Administração Pública e de empresas

Pasadori, Reinaldo – Quem não se comunica não lidera; – São Paulo: Atlas,2013

Dicionário Caldas Aulete, disponível em aulete.uol.com.br

Kinney, Jay – O mito Maçonico.

RAM _ Revista de Administração Mackensie, n.3 ano 2012, disponível emwww.mackensie.br/revista

Castellani, José – A ação secreta da Maçonaria na Política Mundial.